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O DIABO
marina tsvietaieva
SEDE
eugene o'neill
Cavalheiro:
Lembras-te quando se sentiu o choque ? Estávamos todos no salão. Tu estavas a cantar – uma canção inglesa ? Estavas muito bonita. Lembro-me de uma mulher à minha direita a dizer : “Que bonita que ela é ! Será casada ?” . Estranho como uma observação tão idiota fica gravada na memória quando tudo o resto é vago e confuso. Acontece uma tragédia – estamos no meio dela – e aquilo de que melhor nos lembramos mais tarde é um comentário que podia ter sido ouvido numa qualquer carruagem do metro. Tu eras muito bonita. Olhava-te e pensava que tipo de mulher serias. Sabes que nunca te conheci pessoalmente – só te tinha visto quando passeava no convés. Então deu-se o choque - aquele choque estúpido, horrível. Fomos todos atirados para o chão do salão ; depois os gritos, pessoas a praguejar, mulheres que desmaiavam, o estrondo profundo de um telhado a ceder. De repente estava no meio do convés debatendo-me com a multidão. Não sei como consegui entrar num salva-vidas – mas estava sobrelotado e afundou-se imediatamente. Nadei até outro . Bateram-me com os remos. Momentos depois, também esse se afundou.
NEVOEIRO
eugene o'neill
poeta:
Já alguma vez se sentiram tão doentiamente decepcionados e cansados da vida em geral que a morte vos parecesse a única saída? Era como eu me sentia – doente e decepcionado do fundo da alma, ansiando dormir.
ANTES DO PEQUENO ALMOÇO
eugene o'neill
mrs. Rowland :
(em voz baixa) Alfred ! Alfred ! ( não há resposta da porta ao lado e ela desconfiada continua num tom mais alto) Não é preciso estares a fingir que dormes. (não há nenhuma resposta do quarto, e confiante levanta-se da cadeira e avança cautelosamente em bicos dos pés para o armário dos pratos. Com muito cuidado para não fazer barulho, abre lentamente uma porta
( treme-lhe a voz) Alfred !
Depois de uma pausa, durante a qual ela escuta se há algum som, pega no copo serve-se de uma grande dose e e engole-a de um só trago; rapidamente pega na garrafa e no copo e volta a pô-los no esconderijo. Fecha o armário com o mesmo cuidado com que o abriu, e sentindo um grande alívio afunda-se novamente na cadeira. A dose de alcool tem efeito imediato. As suas expressões animam-se, ela parece recuperar energia,e com um sorriso duro e vingativo nos lábios olha para a porta do quarto. Os olhos vagueiam pelo quarto e fixam-se num casaco e coletre de homem que estão pendurados num cabide à direita .Furtivamente dirige-se para a porta , fica ali, sem ser vista do interior do quarto, escutando algum movimento.)
ÚLTIMA VONTADE DE SILVERDENE EMBLEM O'NEILL
eugene o'neill
... a ele deixo a minha coleira, a trela, o sobretudo e a gabardine, feitos de encomenda na Hérmes de Paris em 1929.
... queridos dono e dona, uma última palavra na despedida. Sempre que visitarem a minha campa e ao lembrarem a minha longa e feliz vida convosco, digam com pena mas também com felicidade: " Aqui jaz aquele que nos amou e a quem amámos". Por mais profundo que seja o meu sono ouvir-vos-ei, e nem todo o poder da morte poderá impedir o meu espirito de abanar uma cauda agradecida.
Tau House, 17 de dezembro de 1940.
Blemie!
UM EPÍLOGO
odön von horváth
A Rapariga, levanta subitamente os braços e solta um grito estridente:
Não!!
Leva a mão ao coração, atira a cabeça para trás e cai sem vida.
Um grande silêncio.
O Rapaz, em voz muito baixa, quase sufocada:
... a vida ...
Deixa cair o revólver, passa a mão pelo cabelo e respira fundo, liberto.
Caiu a noite...
E o pano cai.