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O DIABO
marina tsvietaieva

Estou a nadar uma noite no rio Oca. Não estou a nadar, encontro-me apenas sozinha, a meio do Oca, não negro, mas cinzento. E nem sequer me encontro, mas simplesmente, e de repente, afundo-me. Já me afundei. Comecemos de novo : afundo-me a meio do Oca. E quando já me afundei de todo e, segundo parece, morri (...)









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SEDE
eugene o'neill

Cavalheiro:

Lembras-te quando se sentiu o choque ? Estávamos todos no salão. Tu estavas a cantar – uma canção inglesa ? Estavas muito bonita. Lembro-me de uma mulher à minha direita a dizer : “Que bonita que ela é ! Será casada ?” . Estranho como uma observação tão idiota fica gravada na memória quando tudo o resto é vago e confuso. Acontece uma tragédia – estamos no meio dela – e aquilo de que melhor nos lembramos mais tarde é um comentário que podia ter sido ouvido numa qualquer carruagem do metro. Tu eras muito bonita. Olhava-te e pensava que tipo de mulher serias. Sabes que nunca te conheci pessoalmente – só te tinha visto quando passeava no convés. Então deu-se o choque - aquele choque estúpido, horrível. Fomos todos atirados para o chão do salão ; depois os gritos, pessoas a praguejar, mulheres que desmaiavam, o estrondo profundo de um telhado a ceder. De repente estava no meio do convés debatendo-me com a multidão. Não sei como consegui entrar num salva-vidas – mas estava sobrelotado e afundou-se imediatamente. Nadei até outro . Bateram-me com os remos. Momentos depois, também esse se afundou.

Depois o gorgolejar, os gritos asfixiantes dos afogados ! Algo enorme dentro da água passou rapidamente por mim deixando um rasto brilhante de fosforescência. Perto de mim uma mulher com um colete de salvação deu um grito agonizante e desapareceu – então percebi – tubarões ! Fiquei paralisado de terror. Nadei. Bati com as mãos na água. O navio afundara-se. Nadei e nadei apenas com uma ideia – deixar para trás todo aquele horror. À minha frente vi uma coisa branca na água. Agarrei-a – subi para ela. Era esta jangada. Tu e ele estavam nela. Desmaiei. Tudo isto é um pesadelo horrível dentro da minha cabeça – mas lembro-me claramente do comentário idiota daquela mulher no salão. Que criaturas tão dignas de pena que nós somos !













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NEVOEIRO
eugene o'neill

poeta:

Já alguma vez se sentiram tão doentiamente decepcionados e cansados da vida em geral que a morte vos parecesse a única saída? Era como eu me sentia – doente e decepcionado do fundo da alma, ansiando dormir.

Quando o navio ficou abandonado, pareceu-me providencial. Eis a solução que procurava. Afundar-me-ía com o navio e essa pequena parte do mundo que me conhecia pensaria na minha morte como um acidente.(...)










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ANTES DO PEQUENO ALMOÇO
eugene o'neill

mrs. Rowland :

(em voz baixa) Alfred ! Alfred ! ( não há resposta da porta ao lado e ela desconfiada continua num tom mais alto) Não é preciso estares a fingir que dormes. (não há nenhuma resposta do quarto, e confiante levanta-se da cadeira e avança cautelosamente em bicos dos pés para o armário dos pratos. Com muito cuidado para não fazer barulho, abre lentamente uma porta e rapidamente tira uma garrafa de Gin Gordon e um copo de um esconderijo atrás dos pratos. Toca no prato de cima, fazendo barulho. Com este barulho começa a sentir-se culpada, meio desafiante meio amuada olha para a entrada que conduz ao quarto)

( treme-lhe a voz) Alfred !

Depois de uma pausa, durante a qual ela escuta se há algum som, pega no copo serve-se de uma grande dose e e engole-a de um só trago; rapidamente pega na garrafa e no copo e volta a pô-los no esconderijo. Fecha o armário com o mesmo cuidado com que o abriu, e sentindo um grande alívio afunda-se novamente na cadeira. A dose de alcool tem efeito imediato. As suas expressões animam-se, ela parece recuperar energia,e com um sorriso duro e vingativo nos lábios olha para a porta do quarto. Os olhos vagueiam pelo quarto e fixam-se num casaco e coletre de homem que estão pendurados num cabide à direita .Furtivamente dirige-se para a porta , fica ali, sem ser vista do interior do quarto, escutando algum movimento.)

(Chama sussurrando) Alfred !





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MISS OTIS REGRETS
cole porter

by helen costa (video you tube não utilizado no espectéculo)
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ÚLTIMA VONTADE DE SILVERDENE EMBLEM O'NEILL

eugene o'neill


... a ele deixo a minha coleira, a trela, o sobretudo e a gabardine, feitos de encomenda na Hérmes de Paris em 1929.

... queridos dono e dona, uma última palavra na despedida. Sempre que visitarem a minha campa e ao lembrarem a minha longa e feliz vida convosco, digam com pena mas também com felicidade: " Aqui jaz aquele que nos amou e a quem amámos". Por mais profundo que seja o meu sono ouvir-vos-ei, e nem todo o poder da morte poderá impedir o meu espirito de abanar uma cauda agradecida.

Tau House, 17 de dezembro de 1940.

Blemie!




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UM EPÍLOGO
odön von horváth

A Rapariga, levanta subitamente os braços e solta um grito estridente:
Não!!
Leva a mão ao coração, atira a cabeça para trás e cai sem vida.
Um grande silêncio.

O Rapaz, em voz muito baixa, quase sufocada:
... a vida ...
Deixa cair o revólver, passa a mão pelo cabelo e respira fundo, liberto.
Caiu a noite...
E o pano cai.


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